Entre
os argumentos recentes no debate sobre livre-arbítrio e determinismo, um dos
mais famosos é o argumento da consequência de Peter van Inwagen, que pretende
mostrar que o combatibilismo é falso. O compatibilismo é a visão de que todas
as nossas ações poderiam ser totalmente determinadas pelas leis da física mas
que, ao mesmo tempo, poderíamos ter livre-arbítrio no sentido necessário para a
responsabilidade moral. Van Inwagen introduz a essência desse argumento perto
do início do seu livro sobre livre-arbítrio e depois oferece três versões
técnicas detalhadas dele. Incluímos aqui apenas a versão simples e a primeira
formalização técnica (que pretende mostrar eu, sob o determinismo, nunca agiríamos
de nenhuma outra maneira que não seja a maneira pela qual agimos).
Se o determinismo é verdadeiro,
então os nossos atos são consequências das leis da natureza e de acontecimentos
do passado remoto. Mas não compete a nós o aconteceu antes de nascermos, e nem
compete a nós quais são as leis da natureza. Portanto, as consequências dessas
coisas (incluindo os nossos atos presentes) não nos competem. (16)
Considere qualquer ato que
(logicamente) alguém possa ter realizado. Se ficar estabelecido que esse ato é
incompatível com o estado do mundo antes do nascimento da pessoa, considerando
juntamente com as leis da natureza, segue-se então que essa pessoa não poderia
ter realizado esse ato. Além disso, se o determinismo é verdadeiro, então
qualquer desvio do curso real de acontecimentos seria incompatível com qualquer
estado de mundo passado, considerado juntamente com as leis da natureza.
Portanto, se o determinismo é verdadeiro, nunca esteve em meu poder me desviar
do curso real de acontecimentos que constitui a minha história. (75)
P1.
Se o determinismo é verdadeiro, então os nossos atos são consequências das leis
da natureza e dos acontecimentos do passado remoto.
P2.
As leis da natureza e os acontecimentos do passado remoto não nos competem.
P3.
Se alguma coisa não os compete, então suas consequências não nos competem.
C1.
Se as leis da natureza e os acontecimentos do passado remoto não nos competem,
então suas consequências não nos competem (substituição, P2, P3).
C2.
As consequências das leis da natureza e dos acontecimentos do passado remoto
não nos competem (modus ponens, P2,
CI).
C3.
Se o determinismo é verdadeiro, então os nossos atos não nos competem (dentro
do nosso controle e capacidade) (substituição, C2, P1).
P4.
Se os nossos atos não nos competem, então não somos responsáveis por eles.
C4.
Se o determinismo é verdadeiro, então não somos responsáveis por nenhum dos
nossos atos (silogismo hipotético, C3, P4).
A Primeira Formalização de Van
Inwagen
Definições:
Que
“U” seja uma descrição completa do estado do universo neste momento.
Que
“U – 1” seja uma descrição completa do
estado do universo no dia anterior ao nascimento de uma pessoa “X”.
Que
“A” seja uma ação que X não realizou.
Que
“L” seja s leis da natureza.
P1.
X não pode mudar U – 1 (ninguém pode
mudar o estado passado do universo antes do próprio nascimento).
P2.
X não pode mudar L (ninguém pode mudar as leis da natureza).
P3.
Se o determinismo é verdadeiro, então {(U – 1 mais L) acarreta U} (segue-se do
conceito de determinismo).
P4.
Se X tivesse feito A, então não U (A é uma ação que não ocorreu, de modo que,
se tivesse ocorrido, o universo não seria exatamente o mesmo que é agora).
C1.
Se X tivesse feito A, X poderia ter tornado U falso (segue-se semanticamente de
P4).
C2.
Se X pode ter tornado U falso, então X pode ter tornado (U – 1 mais L) falso (transposição, P3).
C3.
Se X pode ter tornado (U – 1 mais L) falso, então X pode ter tornado L falso
(De Morgan, C2, P1, e silogismo disjuntivo).
C4.
X não poderia ter tornado L falso (P2).
C5.
X não poderia fazer A (modus tollens,
C3, C4, e uma série de silogismos hipotéticos implícitos).
Sobre
Peter va Inwagen: Peter van Inwagen (nascido em 21/09/1092 E.U.A) é um filósofo
analítico americado e Catedrático de filosofia da cadeira John Cardinal O'Hara
na Universidade de Notre Dame. Anteriormente ele lecionou na Universidade de
Siracuse e obete seu PhD da Universidade de Rochester, sob a direção de Richard
Taylor e Keith Lehrer. Van Inwagen é uma das principais figuras contemporâneas
em metafísica, filosofia da religião e filosofia da ação. Ele foi presidente da
Sociedade dos Filósofos Cristãos 2010-2013.
BRUCE,
Michael; BARBONE, Steven, Os 100 argumentos mais importantes da filosofia
ocidental, 1 ed, São Paulo: Cultrix, 2013, pgs. 156-7.
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