quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Influência de Marx sobre Adorno e Horkheimer em: A Indústria Cultural: o Esclarecimento como Mistificação das Massas


1. Escola de Frankfurt


Após a primeira guerra mundial a idéia de uma sociedade desenvolvida e organizada por meio da razão autônoma ficava cada vez mais desacreditada. Lembremos que Kant afirmava que o grande problema do homem era seu estado de menoridade e que o domínio da razão levaria o homem a um estado de governo pleno. A primeira guerra mundial demonstrou o contrário, mostrou o quanto o homem era capaz de ser cruel e desumano.
É justamente nesse contexto de desestabilização do sonho de governo pela razão que nasce a escola de Frankfurt, fundada em 1923 como o ainda Instituto para a Pesquisa social, pelo economista Carl Grunberg.
A influência de Karl Marx já era notada na própria concepção do Instituto de pesquisa, que se voltava para analisar as questões de seu tempo por meio do prisma social. (História da filosofia. 2004. p. 458).
Como um centro de pesquisa interdisciplinar, a Escola de Frankfurt utilizava-se de autores como Kant, Marx, Hegel, Freud, Weber e outros para a partir da reflexão destes instrumentalizar uma compreensão da sociedade de forma crítica.
A teoria de Marx pode ser resumida da seguinte forma:
1)    Crítica a ideologia burguesa.
2)    Crítica ao trabalho alienado.
3)    Evolução histórica pelo conflito de classes.

Estes conceitos estruturaram até certo ponto a escola de Frankfurt em suas produções acadêmicas, muito embora não estivessem presos de forma ortodoxas as concepções marxistas, pois conforme postulavam, o marxismo era insuficiente como ferramenta de analise global, uma vez que vários prognósticos de Marx falharam.
Sobre o propósito do capítulo em questão os autores salientam:

O segmento sobre a "indústria cultural" mostra a regressão do esclarecimento à ideologia, que encontra no cinema e no rádio sua expressão mais influente. O esclarecimento consiste aí, sobretudo, no cálculo da eficácia e na técnica de produção e difusão. Em conformidade com seu verdadeiro conteúdo, a ideologia se esgota na idolatria daquilo que existe e do poder pelo qual a técnica é controlada. No tratamento dessa contradição, a indústria cultural é levada mais a sério do que gostaria. Mas como a invocação de seu próprio carácter comercial, de sua profissão de uma verdade atenuada, há muito se tornou uma evasiva com a qual ela tenta furtar-se à responsabilidade pela mentira que difunde, nossa análise atém-se à pretensão, objectivamente inerente aos produtos, de serem obras estéticas e, por isso mesmo, uma configuração da verdade. Ela revela, na nulidade dessa pretensão, o carácter maligno do social. O segmento sobre a indústria cultural é ainda mais fragmentário do que os outros. (ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos fi­losóficos. Disponível em :   <  http://adorno.planetaclix.pt/di_e_industria_cultural.htm   > acessado em: 26/05/2012)



2. A Indústria Cultural: o Esclarecimento como Mistificação das Massas.


O capítulo em questão propõe uma análise da arte como forma de dominação das massas. Adorno e Horkheimer fundamentam sua teoria com um viés marxista de analise social. A arte em sua concepção original tinha como característica a criação livre, espontaneidade e por vezes uma crítica a sociedade em questão, servia como instrumento de provocação do pensamento, da reflexão.
O que os autores constatam é uma indústria da cultura, que sobre os moldes do capitalismo produz arte como forma de distração, de alienação intelectual, dessa forma a arte perderia seu papel de criadora e livre para se tornar uma reprodução em série como na indústria automobilística, voltada sempre aos interesses do consumidor que jamais pode ser contrariados.
Adorno e Horkheimer analisam os instrumentos de comunicação em massa tais como: televisão, rádio e principalmente cinema para explicar como o sistema capitalista com seus burgueses se utilizam destes recursos como forma de dominação. Sobre o adestramento das massas pela indústria cultural os autores afirmam: 

O mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural. A velha experiência do espectador de cinema, que percebe a rua como um prolongamento do filme que acabou de ver, porque este pretende ele próprio reproduzir rigorosamente o mundo da percepção quotidiana, tornou-se a norma da produção. Quanto maior a perfeição com que suas técnicas duplicam os objectos empíricos, mais fácil se torna hoje obter a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se descobre no filme. Desde a súbita introdução do filme sonoro, a reprodução mecânica pôs-se ao inteiro serviço desse projecto. A vida não deve mais, tendencialmente, deixar-se distinguir do filme sonoro. Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exactos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade (ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos fi­losóficos. Disponível em :   <  http://adorno.planetaclix.pt/di_e_industria_cultural.htm   > acessado em: 26/05/2012)



A indústria cultural seria o ambiente da arte no mundo capitalista, Chauí conceitua o termo da seguinte forma:

[...] a partir da segunda revolução industrial no século XIX, e prosseguindo no que se denomina agora sociedade pós-industrial ou pós-moderna (iniciada no anos 1970), as artes foram submetidas a uma nova servidão: as regras do mercado capitalista e a ideologia da indústria cultural , baseada na idéia e na prática do consumo de “produtos culturais” fabricados em série. As obras de arte são mercadorias, como tudo o que existe no capitalismo”  (CHAUI, 2000, p. 156,)  

A razão instrumental seria a forma como o mundo ocidental instrumentalizou os processos de dominação quer seja do homem ou da natureza, Chauí observa o contexto histórico para o termo razão instrumental: “ [...] Quando estudamos a razão, vimos que alguns filósofos alemães, reunidos na Escola de Frankfurt, descreveram a racionalidade ocidental como instrumentalização da razão” para em seguida explicar o significado do termo: “A razão instrumental — que os frankfurtianos, como Adorno, Marcuse e Horkheimer também designaram como razão iluminista — nasce quando o sujeito do conhecimento toma a decisão de que conhecer é dominar e controlar a Natureza e os seres humanos. “ (CHAUI, 2000, p.119)
Os autores procuraram refletir sobre a questão do esclarecimento e sua necessidade para reconduzir a sociedade de seu tempo em uma melhor direção. Cônscios de que o positivismo em suas diversas formulações havia fracassado e que até mesmo a teoria de Marx não era capaz de explicar algumas idiossincrasias geradas pela pós-guerra alemã, Adorno e Horkheimer buscaram compreender aquele novo fenômeno na tentativa de compreender os próximos passos da sociedade alemã.
São notórios como os instrumentos do materialismo histórico de Marx são confluentes na metodologia dos autores, o capital e a sociedade são chaves indispensáveis para compreensão daquele momento histórico.



Bibliografia:

ABRÃO, Bernadette Siqueira. História da Filosofia. São Paulo. Nova Cultural. 2004.
CHAUI, Marilena, Filosofia. São Paulo. Ed ática. 2000.

E-Referência:

ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos fi­losóficos. Disponível em :   <  http://adorno.planetaclix.pt/di_e_industria_cultural.htm   > acessado em: 26/05/2012

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