E quanto à temporalidade divina? Permitam-me partilhar com vocês
dois argumentos favoráveis à temporalidade divina. O primeiro é o argumento
baseado no relacionamento causal de Deus com o mundo. Para entendê-lo, é
preciso antes compreender a diferença entre mudança intrínseca e extrínseca. Algo muda intrinsecamente se uma de suas
propriedades, isolada do relacionamento com qualquer outra coisa, mudar. Por
exemplo, uma maçã durante a maturação muda de verde para vermelho. Essa é uma
mudança intrínseca à maçã. Algo muda extrinsecamente se mudar nas suas relações
com algo mais. Por exemplo, eu já fui mais alto do que meu filho John, agora
sou mais baixo do que ele, não por causa de alguma mudança intrínseca em mim,
mas em razão de uma mudança intrínseca nele. Ele ficou mais alto. Eu fiquei
mais baixo do que John sofrendo uma mudança extrínseca. Com relação à minha
altura, permaneci intrinsecamente imutável, mas sofri uma mudança extrínseca
com relação a John, já que agora, devido ao crescimento dele, eu estou numa
nova relação, qual seja, menor do que, uma vez que antes eu tinha uma relação
diferente com meu filho John, maior do que. Assim, pois, sofri uma mudança
relacional ou extrínseca.