segunda-feira, 30 de julho de 2012

A influência de Hegel em Marx e Feuerbach


Hegel propõe um filosofia que esteja baseada na história, em uma consciência histórica, um sistema abrangente como notou o Dr. Franklin :

Essa possibilidade de explicar os vários aspectos da vida individual e coletiva a partir da totalidade e os resultados altamente sistêmicos assim obtidos conferiam ao pensamento hegeliano pelo menos a aparência de uma filosofia definitiva, satisfazendo aquilo que sempre havia sido o grande anseio da tradição. Por outro lado, esse sentimento de segurança transmitido pela organização do saber e da história proposta por Hegel estava estreitamente associado a uma espécie de justificação do presente, em todos os seus aspectos, inclusive morais e políticos, já que o presente é o resultado necessário do processo de auto-revelação do Espírito.[1]



Em sua obra Fenomenologia do Espírito, Hegel propõe um processo de conscientização do individuo enquanto ser histórico, tal desenvolvimento é gradativo e se estabelece na medida em que o escravo vai se tornando consciente de si no mundo, na medida em que os fenômenos se tornam percebíveis e apreendidos, esse individuo passa de um estado de escravo, ou, seja de um ser totalmente dependente de outro e vai tornando-se senhor de si, não há mais separação entre sujeito e objeto, tal separação é provisória, a integração ao todo é a afirmação do absoluto como identidade.
É por meio das manifestações culturais, tais como arte, ciência, religião e filosofia que o espírito vai se autoconcebendo, caberia a filosofia estabelecer em fim o principio da racionalidade em que se manifestaria a total realização do homem. Hegel propõe 3 divisões para o Espírito:

                                     I.      Espírito subjetivo: trata de temas como Antropologia e Psicologia.
                                  II.      Espírito objetivo: trata de questões sobre filosofia do direito, filosofia moral, política e história.
                               III.      Espírito Absoluto: questões sobre a arte, religião e filosofia em si.[2]

Hegel sai da tradição de análise sujeito-objeto para uma compreensão do ser humano como inserido na história, é um método original, já que não existe mais afirmação de certo modo, do individual e sim do coletivo. A identidade individual só existe quando inserida no todo, na história que sempre é coletiva, é uma identidade orgânica. Por esse viés fortalece extremamente a noção de estado, sendo este o responsável por proporcionar uma identidade ao indivíduo.
O que se pode concluir com Hegel é a importância do individuo como protagonista da história, de sua inserção orgânica na sociedade, não como um ente distinto como na relação sujeito-objeto, mas pertencente a ela, de modo que sua real existência só pode ser afirmada por essa inserção.
            Os jovens hegelianos, conhecidos pela sua fundamentação em Hegel para a promoção da esquerda, foram importantes e se dividiam em duas classes, os de esquerda que buscavam desfazer-se de toda herança teológica nos escritos de Hegel e se utilizando da dialética para um processo de negação como postura crítica da realidade, os  hegelianos de direita conservam o Espírito absoluto proposto por seu mestre, a razão e o real na dialética que unificava tudo nesse Espírito. (ABRÃO, 2004. p. 373)
Marx como seu contemporâneo absorve o conceito de historicidade dinâmica, onde as opostos estão em constante interação produzindo novos acontecimentos, com isso a uma dialética em constate movimento e transformação. E rompeu com Hegel ao compreender que o princípio da história é o mundo material, a ação do homem no mundo que lhe dá significado, e não um Espírito Absoluto.
Em Feuerbach a concepção de um Espírito Absoluto resultou em uma negação contundente da religião, segundo Feuerbach as idéias religiosas não se passavam de fugas da realidade de modo que o homem pudesse se ausentar da responsabilidade diante do mundo, uma forma de alienação intelectual.
Marcuse[3] segue a interpretação de que Feuerbach conserva algum fundamento de Hegel em sua filosofia:

[...] por exemplo, ao situar o pensamento feuerbachiano no contexto da filosofia alemã, em seu clássico Razão e Revolução, parte do princípio de que Feuerbach permanece no âmbito da reflexão hegeliana ao propor A Filosofia do Futuro, pois, tal como Hegel, concebe que a humanidade alcançou a maturidade para efetivar sua emancipação. Por isso, diz que a filosofia de Feuerbach busca a efetivação lógica e histórica da filosofia de Hegel: “A nova filosofia é a realização da filosofia hegeliana, e mais, de toda a filosofia anterior” . Nesse caso, Hegel transformou a teologia em lógica e Feuerbach transformou a lógica em antropologia.


A crítica de Feuerbach a religião diferentemente de Marx é quanto sua autenticidade e não sobre sua utilidade, na perspectiva de Feuerbach a religião possui um papel importante no equilíbrio e desenvolvimento da sociedade, possui uma utilidade sociológica na manutenção do indivíduo.
A herança na esquerda do século 19 é caracterizada pela simbiose entre a forte crítica de Marx as concepções transcendentais e de Feuerbach marcando passo contra a religião enquanto alienadora do homem. Com isso a esquerda se construirá com um forte apelo ao homem por uma versão de paraíso materialista e uma religião que no máximo será imanente e cumpridora de um papel apaziguador dos temores humanos, mantendo a sociedade em equilíbrio.

    

Bibliografia


ABRÃO, Bernadette Siqueira. A História da Filosofia. São Paulo. Nova Cultural. 2004.




[1] Disponível em: SILVA, Franklin Leopoldo. Esquerda Hegeliana <   http://www.filosofia.fflch.usp.br/pt-br/content/esquerda-hegeliana  > acessado em 23/03/2012.
[2] Disponível em : <  http://www.hegel.net/en/spirit.htm  >  acessado em 25/03/2012.
[3] SARTÓRIO, Lucia Aparecida. A antropologia de Feuerbach. Disponível em <  https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:IesXq1fR5BcJ:download.tales.com.br/marxismo/Verinotio/L%25C3%25BAcia%2520Aparecida%2520Valadares%2520Sart%25C3%25B3rio%2520-%2520A%2520antropologia%2520de%2520Feuerbach.pdf+sintese+das+influencias+de+hegel+sobre+feuerbach&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEShWmPWd2hT5vzhKizsVPGV2dWOx8pypFvs4XCS3sJa85E1O2Kpe6qXHUHOFEGG76Ej4yGy3_VtaGGrZSejWveha2lU-27TezM9li_OjPhqrRjHyoHmc1OYzvadvPNMoXm0s3-Xa&sig=AHIEtbTr_uqi83KsBl5A9cJPrRbec7tb7w  >  acessado em 25/03/2012.

2 comentários:

  1. Olá, Douglas, não consigo acessar uma de suas referências, no caso a do Franklin Leopoldo e Silva. Esquerda "hegeliana". Você teria essa referência em outro local?

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  2. Infelizmente não. Tentei buscar o artigo, mas não parece não estar mais disponível.

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