por Jonathan Sarfati
Um anti-teísta (ateu
revoltado com Deus) alegou, na página do CMI no Facebook, ter um argumento
devastador contra o Deus da Bíblia: que a Onisciência de Deus é incompatível
com a livre escolha.
Ø
Deus me criou sabendo que eu iria comer uma
rosquinha pela manhã?
Ø
Se sim, então eu não tenho escolha, a não
ser comer a rosquinha.
Ø
Se Ele me criou ‘sabendo’ que eu iria comer
uma rosquinha, no entanto eu como alguma coisa ao invés de rosquinha, então
Deus não é onisciente.
Ø
Elas são mutuamente exclusivas.
Antes de tudo, essa lógica está
invertida. Nós sabemos que Napoleão perdeu a batalha de Waterloo, mas nosso
conhecimento não causou a derrota de Napoleão. Em vez disso, a derrota de
Napoleão causou o nosso conhecimento. Podemos aplicar isto ao mencionado acima:
Deus é o Criador do tempo, portanto, Ele está fora do tempo – então, comer a
rosquinha retroativamente causou o pré-conhecimento de Deus disso.
Há outra falácia no argumento,
envolvendo um desconhecimento da lógica modal. Ela tem a ver com
necessidade, possibilidade e impossibilidade:
·
Uma proposição é necessariamente verdadeira se
resulta das leis da lógica, da matemática, ou de uma definição, tais como: “um
tijolo, se ele existe, ou ele é vermelho, ou não é vermelho ao mesmo tempo e no
mesmo local”; “2+2=4”; “todos os pais são do sexo masculino”. Alternativamente,
é logicamente impossível para uma proposição necessária ser falsa.
·
Uma proposição impossível não pode ser verdadeira sob
qualquer circunstância possível ou contradições lógicas: “está chovendo e não
chovendo no mesmo lugar e na mesma hora”; “2+2=5”; “meu pai é uma mulher”. Ou
seja, é necessariamente falsa.
· Uma proposição possível
é aquela que pode ser verdadeira. Por exemplo: “está chovendo hoje”; “x+2=4”;
“Bob é um pai”; “o céu é azul”. Qualquer um destes pode ser verdade, porém, não
necessariamente são verdades somente por não violar alguma lei da lógica. Por
exemplo: não é logicamente necessário que o céu seja azul. Essas também são
chamadas de questões contingentes. Todas as proposições necessárias são
proposições possíveis, mas não vice-versa.
Aplicando a lógica modal ao
acima exposto, se comer uma rosquinha é a proposição “p” e “não ter
escolha” é equivalente a necessidade lógica, então o argumento é
essencialmente:
Premissa 1:
Necessariamente, Deus sabe que eu farei p
Premissa 2:
Necessariamente, se Deus sabe que eu farei p, então eu farei p
Conclusão: Necessariamente,
eu farei p (isto é, não havia nenhuma escolha)
Mas isso é logicamente inválido
– a conclusão não resulta das premissas. A conclusão correta é:
“Eu
farei p” ao invés de
“Necessariamente,
eu farei p”.
A falácia do fatalismo é uma falha
de aplicação do operador de necessidade, o qual pode ser deduzido pela inclusão
do sentido de “necessariamente”. Quer dizer, uma alteração errônea de:
Necessariamente (se Deus sabe
que eu farei p, então, eu farei p), para
Se Deus sabe que eu farei p,
então necessariamente (eu farei p).
Compare
outro exemplo similar com a mesma forma (baseado em um exemplo do filósofo
Norman Swartz):
Premissa 1: Necessariamente, se Jenny tem dois gatos e um cachorro,
então ela tem pelo menos um gato.
Premissa 2: Jenny tem dois gatos e um cachorro.
Conclusão: Necessariamente, Jenny tem pelo menos um gato.
Isto ainda
é falacioso, porque não havia nenhuma necessidade lógica dela possuir
quaisquer gatos; isso é apenas uma questão contingente que passa
a ser verdade. A conclusão correta é:
Jenny tem pelo menos um gato.
Ela
teve uma escolha nessa questão – exatamente como você comer uma rosquinha.
Tradução:
Walson Sales
* Meus agradecimentos:
Walson Sales que possibilitou a tradução desse artigo, e ao Samuel Coutinho do
blog: http://deusamouomundo.wordpress.com/
pela revisão. Deus vos abençoe sempre.
"Deus criou o tempo, mas esta fora dele" Interessante
ResponderExcluirFalei, boa tarde.
ExcluirA relação Deus/tempo é um embrolho tanto para filósofos como para teólogos. O texto na verdade trata a falácia da necessidade. O autor procura demonstrar que o fato de Deus saber todos os eventos que irão acontecer não torna os eventos necessários, mas apenas certos. Essa é um confusão costumeira dos defensores do determinismo teológico, que via de regra o utilizam para negar a existência do livre-arbítrio.
Então, o que podemos ver é que os defensores do determinismo teológico erram nas duas categorias, ou seja, filosófica e teologicamente.
Obrigado pela visita.
Se Deus é distinto do Universo - o Universo é uma criação de Deus - Gn 1.1 (não-panteísmo).
ResponderExcluirO Universo está dentro do tempo (movimento).
Logo, Deus não está a mercê deste Universo-tempo-movimento.
Nesse sentido Deus está fora do tempo, ou não sofre as influências deste. Isso não quer dizer que Deus está impassivo ao Universo-tempo-movimento!
Abraços
Orlando
Há um problema neste texto. Existem duas afirmações contraditórias:
ResponderExcluir"Alternativamente, é logicamente impossível para uma proposição necessária ser falsa" e "Ou seja, é necessariamente falsa". Uma frase como "chove ou não chove" é necessariamente verdadeira (tautologia) e uma frase "chove e não chove" é necessarimente falsa (contradição). Portanto, existem frases necessariamente verdadeiras e necessariamente falsas. Metafisicamente, as necessariamente verdadeiras existem em todos os mundos possíveis e as frases que são necessariamente falsas sua referência é vazia em todos os mundos possíveis. Podemos evitar o erro reescrevendo a primeira frase "Alternativamente, é logicamente impossível para uma proposição necessáriamente verdadeira ser falsa".
Amigo Anônimo, Graça e Paz.
ResponderExcluirNa verdade não há contradição no trecho por você destacado se considerado o contexto " Uma proposição é necessariamente verdadeira se [...]", mas você tem razão quando afirma que se reescrita para a forma: " Necessariamente verdadeira" eliminaria a aparente contradição. Porém, como o texto original não está redigido da forma [ correta ] como você propôs, eu manterei o texto como está, mas não sem agradecer pela relevante observação.