segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Van Inwagen e o Argumento da Consequência contra o compatibilismo

Entre os argumentos recentes no debate sobre livre-arbítrio e determinismo, um dos mais famosos é o argumento da consequência de Peter van Inwagen, que pretende mostrar que o combatibilismo é falso. O compatibilismo é a visão de que todas as nossas ações poderiam ser totalmente determinadas pelas leis da física mas que, ao mesmo tempo, poderíamos ter livre-arbítrio no sentido necessário para a responsabilidade moral. Van Inwagen introduz a essência desse argumento perto do início do seu livro sobre livre-arbítrio e depois oferece três versões técnicas detalhadas dele. Incluímos aqui apenas a versão simples e a primeira formalização técnica (que pretende mostrar eu, sob o determinismo, nunca agiríamos de nenhuma outra maneira que não seja a maneira pela qual agimos).


Se o determinismo é verdadeiro, então os nossos atos são consequências das leis da natureza e de acontecimentos do passado remoto. Mas não compete a nós o aconteceu antes de nascermos, e nem compete a nós quais são as leis da natureza. Portanto, as consequências dessas coisas (incluindo os nossos atos presentes) não nos competem. (16)
Considere qualquer ato que (logicamente) alguém possa ter realizado. Se ficar estabelecido que esse ato é incompatível com o estado do mundo antes do nascimento da pessoa, considerando juntamente com as leis da natureza, segue-se então que essa pessoa não poderia ter realizado esse ato. Além disso, se o determinismo é verdadeiro, então qualquer desvio do curso real de acontecimentos seria incompatível com qualquer estado de mundo passado, considerado juntamente com as leis da natureza. Portanto, se o determinismo é verdadeiro, nunca esteve em meu poder me desviar do curso real de acontecimentos que constitui a minha história. (75)

P1. Se o determinismo é verdadeiro, então os nossos atos são consequências das leis da natureza e dos acontecimentos do passado remoto.
P2. As leis da natureza e os acontecimentos do passado remoto não nos competem.
P3. Se alguma coisa não os compete, então suas consequências não nos competem.
C1. Se as leis da natureza e os acontecimentos do passado remoto não nos competem, então suas consequências não nos competem (substituição, P2, P3).
C2. As consequências das leis da natureza e dos acontecimentos do passado remoto não nos competem (modus ponens, P2, CI).
C3. Se o determinismo é verdadeiro, então os nossos atos não nos competem (dentro do nosso controle e capacidade) (substituição, C2, P1).
P4. Se os nossos atos não nos competem, então não somos responsáveis por eles.
C4. Se o determinismo é verdadeiro, então não somos responsáveis por nenhum dos nossos atos (silogismo hipotético, C3, P4).

A Primeira Formalização de Van Inwagen
Definições:
Que “U” seja uma descrição completa do estado do universo neste momento.
Que “U – 1” seja  uma descrição completa do estado do universo no dia anterior ao nascimento de uma pessoa “X”.
Que “A” seja uma ação que X não realizou.
Que “L” seja s leis da natureza.

P1. X não pode mudar U – 1  (ninguém pode mudar o estado passado do universo antes do próprio nascimento).
P2. X não pode mudar L (ninguém pode mudar as leis da natureza).
P3. Se o determinismo é verdadeiro, então {(U – 1 mais L) acarreta U} (segue-se do conceito de determinismo).
P4. Se X tivesse feito A, então não U (A é uma ação que não ocorreu, de modo que, se tivesse ocorrido, o universo não seria exatamente o mesmo que é agora).
C1. Se X tivesse feito A, X poderia ter tornado U falso (segue-se semanticamente de P4).
C2. Se X pode ter tornado U falso, então X pode ter tornado (U – 1 mais L)  falso (transposição, P3).
C3. Se X pode ter tornado (U – 1 mais L) falso, então X pode ter tornado L falso (De Morgan, C2, P1, e silogismo disjuntivo).
C4. X não poderia ter tornado L falso (P2).
C5. X não poderia fazer A (modus tollens, C3, C4, e uma série de silogismos hipotéticos implícitos).


Sobre Peter va Inwagen: Peter van Inwagen (nascido em 21/09/1092 E.U.A) é um filósofo analítico americado e Catedrático de filosofia da cadeira John Cardinal O'Hara na Universidade de Notre Dame. Anteriormente ele lecionou na Universidade de Siracuse e obete seu PhD da Universidade de Rochester, sob a direção de Richard Taylor e Keith Lehrer. Van Inwagen é uma das principais figuras contemporâneas em metafísica, filosofia da religião e filosofia da ação. Ele foi presidente da Sociedade dos Filósofos Cristãos 2010-2013.

BRUCE, Michael; BARBONE, Steven, Os 100 argumentos mais importantes da filosofia ocidental, 1 ed, São Paulo: Cultrix, 2013,  pgs. 156-7.

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